Responsabilidade e Urgência
Somos responsáveis por tudo que nos acontece, pois somos os agentes que acionam tudo.
Às vezes nos perguntamos por que algo está acontecendo conosco, mas se analisarmos com mais profundidade vamos encontrar alguma ação nossa que, inicialmente, desencadeou todos os acontecimentos que culminaram na situação presente.
Certa vez um colega chegou todo sujo e reclamando, pois seu carro havia apresentado problemas. Perguntei o que havia acontecido e ele me disse que o carro tinha fervido.
Não contente, perguntei por que. Ele disse que não tinha colocado água no sistema de arrefecimento, pois não tinha tido tempo.
Não contente, perguntei então o que o atrapalhou tanto que ele não pode parar alguns minutos para colocar água. Ele afirmou que passara o dia correndo atrás de uma conta que estava atrasada e ele precisava pagar.
Perguntei por que a conta atrasara, e ele disse que no dia que deveria pagar a conta ele estava muito atribulado com outros assuntos e acabou esquecendo.
Com calma, para que não ficasse nervoso, perguntei por que estivera ele tão atribulado que deixou de pagar a conta. A resposta foi que ele estava atrasado com um relatório do trabalho.
Parei de perguntar, pois se continuasse perderia o amigo, ou então não encontraria o fim.
A questão é que o problema dele não era o carro, mas sim o relatório. O que causou o problema no carro não foi a falta de água, mas sim o atraso no relatório.
Não temos ainda toda a consciência para buscar a origem de nossos problemas, mas como o exemplo citado, as origens serão sempre ações (ou ainda omissões) de nossa parte. Perceba que se o meu colega não estivesse com o relatório atrasado poderia pagar a conta e, portanto teria colocado água no reservatório e o carro não teria fervido. Simples assim. Mas nós não percebemos.
O instante, este instante, cada instante, é importante. Se deixarmos algo por alguns segundos, algo que deveria ser feito naquele instante, as consequências poderão ser maiores do que podemos imaginar.
Vejamos outros exemplos:
* Atrasamos uma conta porque a Internet deixou de funcionar, mas por que deixamos para a última hora? O problema não foi a Internet, foi que deixamos para a última hora.
* Perdemos o horário de uma reunião por que o trânsito estava muito congestionado, mas por que não saímos mais cedo se sabemos que o horário é propício a congestionamentos? O problema não foi o trânsito, foi nossa falta de predição.
* Não conseguimos imprimir o relatório porque acabou a tinta da impressora. Por que não mantivemos o estoque mínimo de tinta? O problema não foi a falta de tinta na impressora, foi a nossa falta de controle sobre o estoque de tinta.
Podemos encontrar milhares de exemplos, um melhor (ou pior) do que o outro. O triste é que os maiores exemplos estão em nossas próprias vidas, em nosso próprio dia-a-dia.
Antes de esbravejar contra algo que nos acontece precisamos entender as origens do problema. Precisamos descobrir quais foram as ações que desencadearam a situação atual.
Mais que isso, precisamos parar de gerar exemplos de problemas em nossas próprias vidas. Mas como fazer isso?
Devemos, antes de tudo, dar atenção imediata a tudo, a cada assunto, a cada situação. A análise imediata de todas as situações evitará problemas futuros. E não demora tanto quanto você pode estar imaginando, pois basta que verifiquemos o que podemos fazer de imediato e classificar as situações rapidamente.
Após a análise, descobriremos que há situações que exigem resposta imediata, que exigem reação e execução na hora em que se apresentam. São situações que devemos tratar de imediato.
Há outras ações que podem ser tomadas mais tarde, desde que esse mais tarde não seja muito em cima da hora, pois, então, poderemos por tudo a perder. Essas situações devem ser agendadas, anotadas.
Encontraremos outras situações que não exigem que nada seja feito, que são situações que, agindo ou não, nada de prejudicial poderá nos ocorrer. Ainda assim seria bom anotar tais situações para referência futura.
Aproveitando, esqueça a palavra urgente: urgente é tudo aquilo que já deveria ter sido tratado e não foi no momento adequado. Se você acabou de perceber uma situação que requer reação imediata entenda que ela não é urgente. É, no máximo, importante.
Salvo exceções óbvias, nem uma doença é urgente: se você chega ao hospital com dor de estômago o hospital tratará a sua situação como urgente, pois para ele é assim, mas, você e eu sabemos, se você tivesse evitado este ou aquele alimento que você já sabia que não lhe cairia bem (e esse era o momento de reagir, não comendo), você não teria a urgência.
Voltemos aos exemplos dados anteriormente:
* Pagar a conta não é urgente, mas se tornou porque deixamos de pagar no momento certo, com alguma antecedência.
* Fugir do trânsito não é urgente, mas se tornou porque deixamos de nos precaver contra os congestionamentos.
* Imprimir o relatório ou conseguir a tinta não é urgente, mas se tornou porque deixamos de controlar o estoque quando deveríamos tê-lo feito.
Então a urgência não existe, nada urge, tudo pode ser tratado dentro da normalidade.
Mesmo quando lhe passam algo para fazer “para ontem”, isso não é urgente. Atenção e cuidado agora: a urgência é da pessoa que lhe passou, não sua. Você precisa é dar uma resposta imediata, trabalhar rapidamente, mas sem sentido de urgência. Nesses casos, normalmente o que nos é passado como urgente é aquilo que alguém já deveria ter feito e não fez, é aquilo que não foi tratado na hora certa por alguém e, agora, nos repassam para que façamos em menos tempo aquilo que tiveram muito tempo para fazer, mas não fizeram.
É necessário atenção agora, pois muitas vezes podemos passar tarefas “urgentes” para nossos subordinados… Eram urgentes alguns dias atrás? Tomamos todas as ações para resolver o problema antes de repassar? Será que não estamos evidenciando nossa incompetência, incoerência ou inabilidade para nossos subordinados?
Vivemos estressados por que temos trabalhos urgentes, por que deixamos de atuar quando devemos? Então que estresse é esse? É um estresse auto-impingido. Trabalhamos contra nós, nos sabotamos, nos forçamos a atuar sempre contra o tempo.
O tempo não é nosso inimigo e não precisa ser tratado como tal. O tempo é, ao contrário, tudo que temos para agir. Se alocarmos mais coisas do que podemos fazer no espaço de tempo que temos, novamente a culpa não é do tempo ou do calendário, é nossa!
Responsabilidade, nesse caso, implica em culpa, porque haverá consequência. Seja um atraso, seja estresse, seja executar algo de forma inadequada motivados pela pressa, a consequência existirá.
E essa consequência é o que vivemos hoje.
Somos responsáveis (e culpados) pelas consequências de nossas vidas.
Precisamos parar de nos preocupar com as consequências, que são as urgências que aparecem e nos voltar para as origens dos problemas, para a raiz, para a ação que culmina no nosso presente.
Isso não é viver no passado, pelo contrário, é viver o presente intensamente, viver mesmo, dando atenção ao que é mais importante. Assim tomamos as rédeas do nosso futuro, equalizamos as consequências futuras de nossos atos e, passando a conhecê-las, nos preparamos.
Não nos desculpemos, não nos enganemos atribuindo a outros a responsabilidade pelo que vivemos hoje.
É possível sim viver sem urgências, é possível saber de nossa responsabilidade e agir para evitar as consequências, basta que tomemos a devida atenção no instante imediato, agora!