Domingo em Família
Por mais que nos esforcemos para inovar, acabamos sempre voltando às origens. E a família é, talvez, o conceito primário de origem que conhecemos.
O domingo acaba por nos fazer lembrar disso (e também que a segunda feira virá cobrar a labuta).
A família se reúne, os pratos talvez não sejam os mesmos da vovó, o spaguetti deu lugar ao inhoque, o som do disco na vitrola agora é um pouco mais digital, o Chacrinha e o Sílvio Santos não reinam mais absolutos, há menos gente mais velha, há mais gente mais nova, mas o prazer da reunião ainda existe.
A criançada grita, correndo pela sala, que agora não é tão grande (graças aos empreendedores imobiliários e a falta de espaço na cidade). Mas os risos, o olhar do vovô, a brincadeira do cunhado, as palavras cochicadas entre as irmãs… ah, tudo isso é muito parecido.
Na nossa infância nós éramos parte da criançada que, num domingo como este, estava a gritar e correr, a lambuzar-se de chocolate, a fugir da vovó que corria atrás de nós mais a brincar do que a ralhar.
Hoje somos os pais, talvez os avós… ou até bisavós. Já não corremos tanto, não enxergamos tudo, não podemos comer tanto chocolate, mas enfim estamos cá a aproveitar, de uma forma diferente, o domingo em família.
Quanto tempo demoramos para entender que tudo voltará a ser como sempre foi, que buscaremos, no fim, a segurança daquilo que já conhecemos?
Fugimos do tradicional, mas acabamos nos rendendo. Já cantava Elis Regina que Ainda somos os mesmos e vivemos “Como Nossos Pais”, que eu particularmente prefiro interpretada pelo compositor, Belchior.
Tá bem, estou sendo saudosista, muitos dos que leem isto nem sabem quem são esses aí, mas vale a pena conhecer sim. Porque, no fundo, já participaram ou ainda serão os protagonistas do Domingo em Família.
Ou não?