Alexandre Aschenbach

Compartilhando idéias sobre pessoas e tecnologia.

O que fazemos com o que nos fazem

O que fazemos com o que nos fazem

Há uma frase célebre de Jean Paul Sartre, que diz que “O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós.”

Pensando nisso cheguei a conclusão que é preciso mudar reações para, concomitantemente, mudar os efeitos.

Parece complexo, mas não é. É, ao contrário, muito simples.

Vejamos um caso comum, como o de alguém que “fecha” nosso carro no trânsito. Passamos, normalmente, por algumas fases e reações específicas. A primeira talvez seja o reflexo instintivo de nos proteger e proteger o carro. A adrenalina sobe imediatamente, o que é normal e necessário, mas o que resta do acontecimento nem sempre é saudável. Em uma ocorrência como esta, após o fato em si, muitas vezes reagimos com palavrões, alguns “jogando” o carro sobre o outro, ou perseguindo. Pior ainda, nos resta um sentimento, algo interno que provavelmente é raiva mesmo e que fica nos consumindo.

Em casos como esses, muitas vezes uma parte do dia é perdida pois não conseguimos nos livrar do sentimento que adquirimos.

O trânsito é um ótimo exemplo, mas isso acontece muitas vezes e em muitas situações em nosso dia a dia. E sempre acabamos por perder, sempre nós ficamos no prejuízo.

Não vai adiantar, muitas vezes, tentar punir aquele que nos fez algo de ruim. Primeiro porque algumas vezes ele nem percebeu e depois porque não há eficácia nessas tentativas. Quando falamos de nosso dinheiro, de investimentos, sempre procuramos o melhor custo benefício mas esquecemos desse detalhe quando investimos tempo, quando investimos nossas ações. E não devemos esquecer. Ao xingar, ao tentar punir o outro, qual a taxa real de retorno? Qual a real possibilidade de sucesso?

E se não adianta tentar punir, pois o custo seria maior que o benefício, o que fazer com aquela raiva interna, o que fazer com aquele sentimento ruim que ficou dentro de nós?

Esse sentimento, a princípio, nunca deveria ter se instalado e, se já está instalado, nós precisamos vigiar mais a nós mesmos.

Para que ele não se instale precisamos identificar em nosso dia a dia tudo que, já sabemos, pode iniciar o processo e então prestar muita atenção quando algo ocorre, identificar e estancar a reação imediatamente. É um auto aprendizado muito interessante e, com o tempo, fica até automático. E é uma grande satisfação quando percebemos que conseguimos passar pela situação e não deixar que a raiva e o mal estar se instalassem em nós.

Depende de muito controle, muita atenção mas é um custo benefício interessante.

Agora, se esse mal estar já está instalado, não há problema desde que as reações que o potencializam sejam estancadas imediatamente. Quando sentir que está com a raiva já instalada, pare. Pare imediatamente, respire, raciocine, racionalize e, ao invés de ficar procurando desculpas ou formas de reação, domine-se e foque-se em procurar o momento em que você não percebeu essa raiva, descubra o porque não conseguiu controlá-la. A próxima vez, garanto, será mais fácil, melhor identificada e você terá mais chance de sucesso.

Ninguém ganha nada quando reage de forma excessiva e, ao contrário, perde quando mantém um sentimento desagradável dentro de si. E o estado de espírito em que nos encontramos acaba refletindo em nosso dia e nas pessoas à nossa volta.

Auto controle, aprendendo sobre si mesmo, é uma saída interessante e produtiva.

Agora, basta pensar se o que fazemos com o que nos fazem tem sido coerente, na proporção e intensidade corretas.