Quem está em crise?
O mundo está em crise, nosso país está em crise, nossa empresa está em crise e cada um de nós, seguindo a cadeia lógica, também estamos.
Minha dificuldade é justamente entender essa cadeia de crises. Se olharmos para trás veremos que, diariamente, os jornais publicam alguma notícia sobre a crise. Pode ser mundial ou localizada, mas sempre há crise.
Se isso é fato, então não temos o que fazer, o problema sempre estará nos rondando de perto e, a qualquer momento, pode nos pegar!
Síndrome da Cuca
Vivemos então a síndrome da Cuca. “Nana neném, que a Cuca vem pegar…”
E o que fazemos? O que fazem os empresários? Será que devemos realmente dormir? E em que momento?
Se seguirmos a orientação da canção infantil, dormiremos para sempre. Ao menos é uma forma de fugir da Cuca. Passaremos nossa vida segurando os investimentos, cortaremos todos os gastos, ignoraremos quaisquer evoluções pessoais ou para a empresa, como se estivéssemos dormindo e, então, quando a crise (que é a nossa Cuca) chegar, não vai nos pegar.
Esse pensamento ingênuo tem permeado o meio empresarial e até pessoal.
Claro que não podemos ignorar os problemas que possam acontecer, também não podemos deixar de poupar, economizar, cortar custos e analisar investimentos, mas isso não significa deixar de investir, seja em equipamentos seja em pessoas.
Nas “vacas gordas”
Esse investimento deve ser bem planejado durante o período que se chama de “vacas gordas”, ou seja, quando tudo está bem. Quando a empresa está voando em céu de brigadeiro, deve identificar os investimentos que serão importantes para a continuidade da mesma, ainda que possa ocorrer uma crise e, talvez, por causa disso.
É nesse momento que a atualização tecnológica, o investimento em produção, a definição e afinamento dos controles internos, a formação e solidificação de equipes e a retenção de talentos deve ser focada.
Mais ainda, é momento de pensar na flexibilidade que a empresa deve ter, na capacidade de resposta as diversas mudanças que podem ocorrer no mercado.
Ainda mais, é momento de tentar antecipar as necessidades de seu mercado consumidor, levando em conta sempre um conjunto maior e mais exigente do que aquele que você atende hoje.
Esses investimentos são nada mais nada menos que a preparação para a chegada do período de “vacas magras”.
Nas “vacas magras”
E então a crise que é (constantemente) anunciada chega. As vendas despencam, o mercado está congelando de tão desaquecido, os insumos de produção sobem assustadoramente de valor.
E o que você faz?
Bem, a resposta a essa pergunta depende mais do que você fez antes, de como foi sua preparação, se os investimentos foram feitos de forma diligente, se garantiu que cérebros talentosos se sentissem a vontade na empresa, se preparou sua empresa para reagir rapidamente a mudança e se está, já, um passo na frente porque antecipou-se as necessidades de seu mercado.
Se pouco ou nada foi feito antes, aconselho realmente que durma. Durma porque “a Cuca vem pegar”…
A tendência, para quem não se preparou, é que a tecnologia na empresa esteja ultrapassada, que os cérebros talentosos não se animem a permanecer na empresa, que a empresa soluce ao tentar reagir e acabe por tropeçar ao tentar correr atrás de seu mercado e de seus concorrentes. Se este for o caso, durma, implorando para que consiga sobreviver à crise.
Mas se, ao contrário, a preparação foi bem feita, você terá tecnologia de ponta, pessoas empenhadas e flexibilidade para reagir, fazendo com que a crise seja menos devastadora na sua empresa. E se além disso você se antecipou, então a tendência é que seus concorrentes vejam os clientes deles percorrendo um doce e suave caminho até a sua empresa e, em tempos de crise, isso pode significar a vida ou a morte.
Se for este o caso, não durma. Aproveite o momento pois você estará gerando riqueza enquanto outros terão dificuldades e é aí que está o grande momento.
A crise pode ser o melhor momento
Fazendo apenas um paralelo como exemplo: quando o mercado automobilístico está em crise, com pátios cheios, o que acontece? São promoções e liquidações infestando os comerciais de televisão. Eles precisam vender, eles precisam sobreviver, mas não podem mais manter margens altas, precisam ganhar um pouco em cada venda.
Imagine agora você, em tempos de crise, mas preparado e gerando alguma riqueza. Seus fornecedores também estão com dificuldades pois os clientes deles, exceto você, vivem a mesma crise e não se prepararam para isso. Então é hora de aproveitar-se da situação e obter bons descontos, talvez até mantendo algum investimento.
Não sou favorável a “esfolar” o fornecedor, nem em situação de crise. Precisamos é encontrar um meio termo para que seja bom para ambos mas é inegável que um negócio bom para ambos é melhor que ficar sem vender e, portanto, sua chance de conseguir bons negócios durante as crises é sempre maior.
Tecnologia ou Pessoal?
Sempre prefiro acreditar que as pessoas estão à frente da tecnologia, que são elas que movem a máquina e não o contrário. Ainda que você possa conhecer uma ou outra pessoa que “funciona” ao contrário, não é a regra.
Se é assim, então precisamos ter as duas coisas, já que um não vem “embarcado” no outro.
Pessoal motivado e preparado vai nos oferecer inteligência e técnica, mas precisarão de tecnologia para dar vazão à criatividade e executar as tarefas. Tecnologia avançada nos trará infinitas possibilidades, mas precisará de pessoas para alimentá-la com criatividade e inteligência. Então não há saída, os investimentos devem ser sempre equilibrados.
Lembremo-nos entretanto que a tecnologia não pede demissão, que ela não precisa se alimentar, que não casa e tem filhos, que não faz compra no mercado, que não dorme. A tecnologia precisa do investimento para aquisição e manutenção, as pessoas precisam do investimento em autoestima, bem estar e qualidade de vida.
Haverá, muitas vezes, momentos em que pensaremos se compramos a bicicleta ou se casamos. Do meu ponto de vista, se eu comprar a bicicleta vou pedalar sozinho mas se casar posso caminhar com alguém a me apoiar. Eu casaria.